Ele tinha o direito de dizer tudo o que queria, e dizia.
Havia um homem que pautava a
sua vida pelo princípio da liberdade, da autenticidade e da permissão.
Sim, ele se permitia, acha
importante se permitir dizer com autenticidade e sinceridade tudo o que
desejava dizer e até o que não desejava, mas que lhe vinha à cabeça, ou melhor,
que lhe vinha à boca, nem sempre à cabeça.
Vamos dar um nome fictício a
este homem em respeito ao seu direito de anonimato, vamos chamá-lo de senhor
Prolixo.
O senhor Prolixo orgulhava-se
de falar a verdade na cara das pessoas, fosse quem fosse, ele não mentia, não
disfarçava, era sincero.
Ele entendia que guardar
coisas e deixar de dizer algo poderia lhe fazer mal e ainda tirava a
autenticidade das relações.
Quando alguém achava ruim e reclamava
com ele, não entendia como as pessoas não gostavam que ele fosse sincero. Ele não
falava pelas costas e não levava desaforo para casa.
Com o passar do tempo Prolixo percebeu
que algumas pessoas começaram a se afastar dele, começou a perder amigos, a
perder namoradas, a perder empregos, a afastar parentes, a ver pessoas feridas,
machucadas e até chorando e tristes por causa das suas palavras.
Quando se deu conta, Prolixo
estava vivendo sozinho, estava isolado, não tinha mais amigos nem ninguém que
conseguisse conviver com ele, pois sabiam que em algum momento ele os feriria
com suas palavras.
O Senhor Prolixo pensava: “que
gente chata, que gente molenga e sensível, não se pode dizer nada, se ofendem com
tudo”.
Mas um dia ele cansou de viver
sozinho e de machucar as pessoas. Tentou se controlar, mas não conseguia, acabava
dizendo. Depois pedia desculpas e muitos o desculpavam com sinceridade, mas ainda
assim não conseguia mais reaver a amizade, ou o amor, da mesma forma. E acabava
ofendendo novamente.
Então foi falar com seu avô,
um velho carpinteiro, porque com seu pai ele não podia mais falar, havia ferido
e magoado o pai muitas vezes.
Naquela época, as pessoas mais
velhas, mais experientes, que já tinham vivido bastante, como o pai e o avô, serviam
como o coach de hoje em dia. Quando alguém estava com uma dúvida, com algum
problema, precisando de um rumo, se aconselhava com alguém mais velho, com
vivência, com experiência de vida.
Então o velho vovô carpinteiro
ouviu o neto, suas histórias, suas queixas e explicações e o levou até uma parede
de madeira que ele mesmo havia construído.
Mostrou a parede de madeira
nova ao neto, entregou-lhe um maço de pregos e um martelo e mandou que ele
pregasse pregos por toda aquela parede, de cima abaixo, um ao lado do outro,
por toda a extensão.
E o velho saiu, deixando Prolixo
sozinho, pregando pregos.
Depois de um tempo, Prolixo
terminou de pregar e avisou seu avô, que o acompanhou até a parede. Enquanto os
dois Olhavam para ela, o velho perguntou o que ele via, e ele respondeu que a
parede estava cheia de pregos.
Então o velho ordenou que ele
arrancasse todos os pregos, e saiu.
Prolixo já estava irritado,
quase dizendo umas verdades ao seu avô, mas também estava muito curioso para saber
onde ia dar aquilo tudo.
Então arrancou todos os pregos e chamou o seu avô
novamente, que lhe perguntou:
- o que você está vendo?
E o neto respondeu, irritado:
- Estou vendo uma parede cheia
de furos, ora!
E então o velho carpinteiro
explicou ao neto, que assim como aconteceu com os pregos, algo parecido acontecia
com as palavras. Quando você diz algo que machuca alguém você crava um prego no
relacionamento, na emoção, na sensibilidade, na alma daquela pessoa.
Quando você pede desculpas
você arranca os pregos, mas as marcas, os furos, nem sempre podem ser apagados.
A parede jamais será a mesma, não é mais possível ignorar aquelas marcas.
Você tem toda a liberdade de
pregar os pregos que desejar, da forma que quiser, mas tenha a consciência de
que, mesmo arrancando os pregos, ficarão furos na parede.
Você tem liberdade de dizer o
que quiser, mas mesmo que peça desculpas depois e seja perdoado, os furos dos
pregos ficarão. A palavra dita jamais retorna e a marca que elas deixam nem
sempre podem ser ignoradas ou apagadas.
Por isso, se queres resultados
diferentes, então precisas fazer diferente. É melhor ter mais cuidado com as
palavras, com a forma de dizer, para quem diz e em quais circunstâncias.
A solução para uma pessoa não
adoecer com o aquilo que guarda não está em colocar para fora, jogando o seu lixo
na sala do vizinho. Está no tipo de coisa que produz. Por exemplo, o que produz
coisas amargas é a amargura. O que produz coisas doces é a doçura. A escolha do
que você vai produzir é sua e não dos outros.
Não é sua a tarefa de julgar a
sensibilidade dos outros ou exigir que não se ofendam com o que você diz. Também
não é verdade que usar palavras amenas é enganar ou mentir. É possível dizer a
verdade de diferentes formas e até a mais dura verdade pode ser dita de forma gentil.
A sua forma de dizer,
grosseira e rude, não é uma virtude, se fosse não machucaria tanta gente. A sua
forma de dizer é o sinal de que algo não está bem no seu interior. Pode ser a
expressão da sua amargura, da sua insatisfação, da sua revolta ou, talvez, da
sua insegurança.
Depois de ouvir as palavras do
seu avô e de passar por esta experiência, Prolixo nunca mais foi o mesmo, mudou
completamente a sua maneira de ver as relações, o valor das palavras e de falar
com as pessoas.
A sua vida mudou, ele entendeu
o grande poder que as palavras tinham na sua vida e na vida dos que o rodeavam.
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