O que é Matrix?
Quer saber se você vive em uma ilusão?
Se você é realmente livre?
É muito provável que a palavra
Matrix leve você a fazer relação com os filmes que têm este nome, com razão.
Mas este artigo não trata exatamente da trilogia Matrix, embora se aproprie da
ideia contida nestes filmes.
No primeiro filme Matrix, de
1999, um grupo de pessoas está ciente de que a vida da maioria das pessoas é
uma ilusão e de que elas vivem uma escravidão, porém convencidas de que são
livres. É esta realidade que o grupo apresenta ao protagonista, Neo, vivido
pelo ator Keanu Reeves. Daí em diante se desenrola todo o enredo da trilogia.
Esta ideia de que o mundo que
nós percebemos e vivemos não é tão real como nos parece e de que nossa vida é
programada e não decidida conscientemente e livremente por nós não é nova, não
foi inaugurada no cinema pelo filme Matrix.
Há milhares de anos esta ideia
acompanha os seres humanos, desde a antiga Índia e a deusa Maya, que cria
ilusões com movimentos de dança, passando pelo filósofo grego Platão, e a sua
alegoria da caverna, por Rene Descartes (1596 a 1650), físico, filósofo e
matemático francês, até os dias de hoje.
Grosso modo, a alegoria da
caverna, de Platão, diz que um grupo de pessoas viviam olhando para as sombras
projetadas na parede de uma caverna e para elas aquilo era a realidade, o mundo
e a vida.
Quando um deles resolve
questionar, sai de onde está e descobre um mundo imenso e mais real fora da
caverna. Ele retorna à caverna para contar a novidade aos seus amigos, mas eles
não acreditam, não aceitam a sua versão, o chamam de louco e o matam.
A
matrix psíquica
Além da longa história de
reflexão do homem sobre a veracidade da vida que vivemos, há um fundamento
neurológico e psicológico para desconfiarmos da nossa capacidade de perceber e
viver a realidade, se é que ela existe.
Basta você começar refletindo
sobre a maneira como percebemos o mundo. Todas as informações entram em nós por
5 portas, os cinco sentidos de percepção externa: audição, olfato, visão, tato
e paladar.
A visão, por exemplo, não
acontece com a simplicidade que achamos que acontece. Não enxergamos com os
olhos, enxergamos com a mente.
A luz bate nas coisas e
reflete. O que o olho humano capta são apenas reflexos da luz. É a mente que organiza,
interpreta e dá sentido ou não a estes estímulos que nos chegam através dos
olhos.
Nosso cérebro faz quase que
instantaneamente milhões de combinações e diferenciações para decidir se
reconhece ou não aquele estímulo que chegou aos olhos, isto é, ele recorre a
uma matriz.
A palavra Matrix pode ser
traduzida para o português como matriz. Como aquela matriz matemática que
aprendemos na escola. Uma matriz é um modelo, um protótipo básico a partir do
qual se desenvolve tudo o que existe.
Na computação esta matriz
básica é a linguagem binária, composta por dois elementos diferentes, 0 e 1,
que permitem infinitas combinações e arranjos para sustentar toda a
programação.
Semelhantemente uma matriz,
uma matrix, vai sendo criada em nós a partir de todos os estímulos que
recebemos desde o útero materno e mais intensamente depois que nascemos.
É a partir desta matriz que
lemos e entendemos o mundo a nossa volta e até nós mesmos. Ou seja, nós
basicamente só lemos e interpretamos, não temos contato direto com a realidade.
Podemos dizer que não vemos o
mundo como ele é, recebemos reflexos de luz nos olhos e nossa mente reconhece
ou não depois de fazer milhares de buscas na memória, milhares de comparações,
combinações e diferenciações. Se a mente reconhecer aquele padrão, então nomeia
pela linguagem, como sendo cadeira, mesa, árvore, pessoa, etc.
Foi baseando-se nisso que Rene
Descartes criou aquela famosa frase “Penso, logo existo”, querendo dizer que a
única coisa que ele considerava real são estas operações mentais, fora isso tudo
é desconhecido para nós. Seria como dizer que dos nossos sentidos para fora não
sabemos o que existe, pois tudo o que temos são interpretações dos estímulos
que nos chegam, de acordo com a nossa matriz interna, a matrix.
Para comprovarmos isso basta eliminarmos
o sentido da visão para entendermos que as operações continuarão as mesmas, só
que a partir de outros tipos de estímulos, sons, cheiros, gostos e texturas.
A
matrix social
Ampliando um pouco esta ideia
podemos entender que, de certa forma, somos programados, temos um programa
interno que interpreta o input, o
estímulo externo, e a partir disso cria-se o output, que seria a nossa expressão, inclusive de comportamento,
padronizado pela matriz ou, em inglês, matrix.
Onde está aí a liberdade? Onde
está aí a verdade? Onde está a independência?
Você tem certeza que compra
por decisão própria, livre e independente?
Você tem certeza que tem este
ou aquele comportamento por decisão própria, livre e independente?
Você tem certeza que é livre?
Ou suas decisões são tomadas
em obediência a uma matriz?
Ou seu comportamento obedece
ao padrão de uma matriz?
Vou mostrar uma matriz bem
interessante para você. Tudo o que é produzido pelo homem no mundo, em todas as
indústrias e em todas as áreas, precisa ser consumido pelo próprio homem.
O homem é estimulado a
produzir ganhando X e depois é estimulado a consumir o que produziu pagando Y. É
um sistema circular, recorrente, você recebe algo para produzir e depois devolve
o que recebeu ao trocar por algum “bem”.
Este “bem” é geralmente
perecível, descartável, cada vez mais temporário, logo se torna obsoleto, para
que precise ser substituído por outro mais moderno, avançado e melhor, por isso
se torna uma necessidade.
Aí você poderia dizer que
compra porque quer, que faz porque quer, que a decisão é sua. Será?
O que aconteceria se você
decidisse se libertar desta matriz?
Ficaria fora dela, às margens,
marginalizado, desconectado, seria rejeitado, recusado. Quem não produz não
ganha, não tem como comprar, como consumir. A matrix não reconhece este padrão,
por isso ele fica fora.
O que aconteceria se a maioria
resolvesse se libertar desta matrix?
Se parar a produção, para a
remuneração, para o consumo, que faz parar toda a produção e a engrenagem
quebra.
Portanto você precisa ser
estimulado a se manter dentro da roda, desde cedo precisa ser estimulado a ter
uma profissão, produzir algo, para ganhar e consumir, como se isso fosse a
própria vida. E é?
Há o marketing específico
voltado para fazer a criança consumir. Cada vez mais cedo a criança é
estimulada a competir, a se capacitar, a se preparar para uma carreira
profissional, para ser mais uma peça na engrenagem, para ter um bom padrão de
produção e consumo.
Mas a ilusão criada é que tudo
é feito para ela “ser alguém na vida”, para ser “feliz”, para ter “liberdade”. Só
que esta vida, felicidade e liberdade se resume em escolhas e decisões dentro
da matrix, dentro da engrenagem, não pode ser fora dela.
Pode escolher a roupa, o
carro, se vai comer no Bobs ou no Mcdonalds ou escolher como vai preparar seu
filho para pertencer a mesma engrenagem da matrix. Fora disso é terreno
proibido, é área restrita, é persona non
grata.
A
ilusão de que a ilusão é a única realidade possível
Mas aí vem o mais preocupante.
Como na alegoria da caverna,
grande parte das pessoas não querem outra “realidade”, este é o único mundo
possível para elas, defendem a ilusão e a escravidão com sangue e morte se for
preciso.
Sequer aceitam a possibilidade
de pensar que são escravas, que vivem como máquinas, operando de acordo com uma
programação feita para elas. E defenderão a matrix, este modelo em que vivem,
esta programação, com unhas e dentes, como se isso fosse a própria essência da
vida. Mas será que é?
Não estamos dizendo com isso
que a parir de agora você deveria abandonar tudo o que conhece da vida e deste
mundo porque tudo é ilusão.
Não estamos dizendo que você
não deve ter profissão nem comprar mais nada.
O que estamos mostrando é que
faz uma grande diferença você estar nadando no meio do Oceano Pacífico sabendo
onde está, qual a sua condição e os perigos que corre, do que nem sequer
suspeitar da sua condição.
É melhor fazer escolhas e
tomar decisões acordado ou dormindo? Se você quer ter condições para fazer
melhor as suas escolhas, para você e para os que você ama, então é melhor fazer
escolhas acordado, sabendo onde está, quais os riscos, o que está acontecendo,
com mais lucidez.
Se esta vida já é assim, um
modelo imposto, uma matrix que nos é imposta e onde vivemos presos, ainda há
como piorar, que é viver achado que é livre e independente e que todas as
escolhas são conscientes.
É disputar com os semelhantes
uma posição de status dentro desta corrida de ratos, onde todos vivemos, achando
que então, por isso, tornou-se um gato ou até um leão.
E para isso, alguns se
atrapalham em mentiras, enganos, traições, financiamentos esmagadores, dívidas,
juros, separações, desavenças, brigas, excesso de trabalho e de consumo e até
crimes para manterem aparências ou para manterem a ilusão de que são especiais,
melhores, diferenciados.
Mas ainda continua sendo
ilusão, permanecemos todos dentro da mesma gaiola, obedecendo a mesma matriz,
funcionando no mesmo padrão. O que muda é só o tipo de ilusão, uns acham que já
chegaram a algum lugar e outros que ainda chegarão. Como os ratinhos girando na
roda em busca de sucesso, ou de sobrevivência.
Sobre este assunto há muito
mais a se conhecer e muito mais a se dizer. Esta é apenas uma pequena
contribuição para início de conversa.
O filme Matrix é uma metáfora
da nossa existência em sociedade e de nossa condição psíquica nesta existência,
e sugere que a vida é outra coisa, bem diferente e além do meramente existir.
No filme Matrix, Neo, o
protagonista, teve que escolher tomar uma pílula azul ou uma vermelha. A azul o
levaria de volta ao sono, ao cotidiano, à ilusão da matrix. A pílula vermelha o
levaria ao despertar, a enxergar a verdade e entender o que é matrix e a vida
que levava.
Agora é a sua vez de escolher:
pílula azul ou vermelha?
Liberte-se.
Espero ter contribuído em algo
com este artigo.
Até o próximo.