terça-feira, 23 de abril de 2019

GAME OF THRONES: A CORAGEM (texto sem spoiler)



“Em nome do guerreiro, ordeno que tenhas coragem.

Em nome do pai, ordeno que sejas justo.

Em nome da mãe, ordeno que protejas os inocentes.”


Estamos assistindo a oitava e última temporada desta série fantástica.

Além de desfrutar dos episódios é possível aprender muito com ela sobre a natureza humana.

O segundo episódio desta última temporada foi emocionante, claro que não só este, muitos foram, mas este foi um momento de reflexão antes da grande batalha entre vivos e mortos, entre a vida e a morte.

Se bem que ficou evidente que há muita morte na vida e muita vida na morte, não fosse assim não teriam que se enfrentar.

E agora, quase no final, surge novamente o juramento, a cerimônia, as palavras usadas na nomeação do cavaleiro, que é tudo o que um homem necessita ter ao longo da sua vida.

"Em nome do guerreiro, ordeno que tenhas coragem"


A coragem não é o atributo do guerreiro, que vai garantir a sua vitória na luta contra o inimigo externo.

A coragem não está ligada à vitória diretamente.

Mas está ligada à luta.

Para vencer é preciso ter mais habilidade que o oponente.

Para enfrentar a luta é preciso de coragem.

Sem coragem a pessoa nem começa, então não tem mesmo como vencer, já está derrotada, já está morta.

Por isso é em nome do guerreiro que se ordena a coragem, porque não importa se vai viver ou morrer, ganhar ou perder, ele tem coragem para enfrentar.

 Não pode fugir disso, não pode evitar ou deixar de fazer, porque é um princípio dele, que o constitui, é parte dele, por isso é um guerreiro, um cavaleiro.

Ter coragem não é não sentir medo.


Ter coragem é enfrentar o medo e fazer assim mesmo, com medo e tudo.
Não importa o tamanho do inimigo, a cara feia, o tamanho da espada dele, o quanto ele é famoso e temido.

O cavaleiro dotado de coragem vai e enfrenta, do seu jeito, porque é assim que ele é.

O corajoso sabe reconhecer que perdeu a luta, sabe conviver com isso e sabe respeitar a superioridade do seu oponente.

Mas  não conseguiria conviver com a derrota de não ter enfrentado, de nem ter tentado, de ter fugido.

A coragem é um atributo do guerreiro que o faz enfrentar primeiro o seu medo e depois seu oponente. Primeiro enfrenta a si mesmo, luta dentro de si mesmo, depois contra o que está fora.

Na vida real, aqui fora de Game of Thrones, temos medo até de sentir medo, temos medo das nossas fraquezas, temos medo do desconhecido, da incerteza, do que não dominamos, do que não entendemos.

Temos medo do assalto, do desemprego, do chefe, da falta de grana, de não conseguir, de perder, de que nos vejam como somos.

Temos medo do que será o amanhã, medo de sentir dor, medo do que irão pensar de nós, medo da comida fazer mal, de engordar ou emagrecer, medo de se arriscar ou de ficar doente.

Temos medo que nós mesmos desconhecemos.

E ao invés de termos coragem e enfrentarmos estes medos, nos damos o direito de fugir, de nem sequer enfrentar, nem o que está dentro nem o que está fora de nós. É um direito, se a covardia prejudicar somente a si mesmo.

Temos medo de uma crise financeira, medo do terrorismo, do  comunismo, de que não gostem de nós, medo que nos desaprovem, medo de não fazermos sucesso, de não sermos reconhecidos.

Temos medo de não conseguirmos comprar, de não conseguirmos ter.

Temos medo do bullying e temos medo de não sermos salvos.

Temos medo de germes, de mosquitos, de bactérias e vírus.

Temos medo de perder o controle.

Temos medo até de Deus e de perder a ilusão.

Até que chegamos ao ponto em que não queremos mais nem sair de casa nem falar com pessoas.

Afrouxamos demais. Somos feitos de medos.

E estes medos são colocados em nós propositalmente, planejadamente, porque o medo é a melhor ferramenta de controle que existe.

Todos os governos e mecanismos de controle sabem disso. O mercado e o marketing sabem disso.

Por isso o tom é sempre de que você não vai poder viver sem isso ou com aquilo, que seus filhos não terão futuro ou serão frustrados, que sua família corre risco se você não adquirir e se não fizer assim seu futuro estará ameaçado.

Se não nos ouvir você irá para o inferno, um inferno de vida.

Será, mesmo?

Existem os perigos e riscos reais. Isto é certo, é fato.

Mas também existem outros fatos.

Os perigos e riscos podem atingir qualquer pessoa, com medo ou com coragem.

E viver cheio de medos já é viver no inferno. Por que o que é o inferno senão um lugar de terror e medo?

Viver cheio de medos já é uma derrota, uma doença, um fracasso, nem é preciso que os perigos e riscos nos atinjam. 

Todos estes medos detonam com a autoconfiança e a autoestima. Causam uma enorme sensação de impotência e frustração que acaba esmagando a vida das pessoas.

Em nome do guerreiro, ordeno que tenhas coragem. E assim enfrente seus medos, não os outros, não os dos outros.

Tenha coragem, porque o medroso também morre, também sente dor, também fracassa, também vive o inferno, talvez muito mais do que aquele que tem coragem.

Não se deixe dominar pelo medo, não permita que o medo mate seus sonhos, sua liberdade, seu prazer de viver, sua autenticidade, sua bondade, seu amor, seu senso de justiça.

Justiça será o tema do próximo artigo, a partir da segunda frase da cerimônia de nomeação do cavaleiro: em nome do pai, ordeno que sejas justo.

Mas até lá, reflita sobre seus medos. Você reconhece os seus medos? Do que você tem medo?

Enfrente seus medos, da forma que for mais adequada para você, pedindo ajuda se for preciso, mas tenha coragem de enfrentá-los.


Liberte-se!


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