“Em
nome do guerreiro, ordeno que tenhas coragem.
Em
nome do pai, ordeno que sejas justo.
Em
nome da mãe, ordeno que protejas os inocentes.”
Estamos assistindo a oitava e
última temporada desta série fantástica.
Além de desfrutar dos
episódios é possível aprender muito com ela sobre a natureza humana.
O segundo episódio desta
última temporada foi emocionante, claro que não só este, muitos foram, mas este
foi um momento de reflexão antes da grande batalha entre vivos e mortos, entre
a vida e a morte.
Se bem que ficou evidente que há
muita morte na vida e muita vida na morte, não fosse assim não teriam que se
enfrentar.
E agora, quase no final, surge
novamente o juramento, a cerimônia, as palavras usadas na nomeação do cavaleiro,
que é tudo o que um homem necessita ter ao longo da sua vida.
"Em
nome do guerreiro, ordeno que tenhas coragem"
A coragem não é o atributo do
guerreiro, que vai garantir a sua vitória na luta contra o inimigo externo.
A coragem não está ligada à vitória
diretamente.
Mas está ligada à luta.
Para vencer é preciso ter mais
habilidade que o oponente.
Para enfrentar a luta é
preciso de coragem.
Sem coragem a pessoa nem
começa, então não tem mesmo como vencer, já está derrotada, já está morta.
Por isso é em nome do
guerreiro que se ordena a coragem, porque não importa se vai viver ou morrer, ganhar
ou perder, ele tem coragem para enfrentar.
Não pode fugir disso, não pode evitar ou
deixar de fazer, porque é um princípio dele, que o constitui, é parte dele, por
isso é um guerreiro, um cavaleiro.
Ter coragem não é não sentir
medo.
Ter coragem é enfrentar o medo
e fazer assim mesmo, com medo e tudo.
Não importa o tamanho do
inimigo, a cara feia, o tamanho da espada dele, o quanto ele é famoso e temido.
O cavaleiro dotado de coragem
vai e enfrenta, do seu jeito, porque é assim que ele é.
O corajoso sabe reconhecer que
perdeu a luta, sabe conviver com isso e sabe respeitar a superioridade do seu
oponente.
Mas não conseguiria conviver com a derrota de não ter
enfrentado, de nem ter tentado, de ter fugido.
A coragem é um atributo do
guerreiro que o faz enfrentar primeiro o seu medo e depois seu oponente. Primeiro
enfrenta a si mesmo, luta dentro de si mesmo, depois contra o que está fora.
Na vida real, aqui fora de
Game of Thrones, temos medo até de sentir medo, temos medo das nossas fraquezas,
temos medo do desconhecido, da incerteza, do que não dominamos, do que não entendemos.
Temos medo do assalto, do
desemprego, do chefe, da falta de grana, de não conseguir, de perder, de que nos vejam como somos.
Temos medo do que será o amanhã,
medo de sentir dor, medo do que irão pensar de nós, medo da comida fazer mal,
de engordar ou emagrecer, medo de se arriscar ou de ficar doente.
Temos medo que nós mesmos
desconhecemos.
E ao invés de termos coragem e
enfrentarmos estes medos, nos damos o direito de fugir, de nem sequer
enfrentar, nem o que está dentro nem o que está fora de nós. É um direito, se a covardia prejudicar somente a si mesmo.
Temos medo de uma crise financeira,
medo do terrorismo, do comunismo, de que
não gostem de nós, medo que nos desaprovem, medo de não fazermos sucesso, de
não sermos reconhecidos.
Temos medo de não conseguirmos
comprar, de não conseguirmos ter.
Temos medo do bullying e temos
medo de não sermos salvos.
Temos medo de germes, de
mosquitos, de bactérias e vírus.
Temos medo de perder o
controle.
Temos medo até de Deus e de
perder a ilusão.
Até que chegamos ao ponto em
que não queremos mais nem sair de casa nem falar com pessoas.
Afrouxamos
demais. Somos feitos de medos.
E estes medos são colocados em
nós propositalmente, planejadamente, porque o medo é a melhor ferramenta de
controle que existe.
Todos os governos e mecanismos
de controle sabem disso. O mercado e o marketing sabem disso.
Por isso o tom é sempre de que
você não vai poder viver sem isso ou com aquilo, que seus filhos não terão
futuro ou serão frustrados, que sua família corre risco se você não adquirir e
se não fizer assim seu futuro estará ameaçado.
Se não nos ouvir você irá para
o inferno, um inferno de vida.
Será, mesmo?
Existem os perigos e riscos
reais. Isto é certo, é fato.
Mas também existem outros fatos.
Os perigos e riscos podem atingir qualquer pessoa, com medo ou com coragem.
E viver cheio de medos já é viver no inferno. Por que o que é o inferno
senão um lugar de terror e medo?
Viver cheio de medos já é uma derrota, uma doença, um fracasso, nem é preciso que os perigos e riscos nos atinjam.
Todos estes medos detonam com a
autoconfiança e a autoestima. Causam uma enorme sensação de impotência e frustração
que acaba esmagando a vida das pessoas.
Em nome do guerreiro, ordeno
que tenhas coragem. E assim enfrente seus medos, não os outros, não os dos
outros.
Tenha coragem, porque o
medroso também morre, também sente dor, também fracassa, também vive o inferno,
talvez muito mais do que aquele que tem coragem.
Não se deixe dominar pelo medo,
não permita que o medo mate seus sonhos, sua liberdade, seu prazer de viver,
sua autenticidade, sua bondade, seu amor, seu senso de justiça.
Justiça será o tema do próximo
artigo, a partir da segunda frase da cerimônia de nomeação do cavaleiro: em nome do pai, ordeno que sejas justo.
Mas até lá, reflita sobre seus medos. Você reconhece os seus medos? Do que você tem medo?
Enfrente seus medos, da forma
que for mais adequada para você, pedindo ajuda se for preciso, mas tenha
coragem de enfrentá-los.
Liberte-se!