domingo, 3 de novembro de 2019

VENDAVAL NO JARDIM


Checklist de validação


Um jovem estava fazendo uma espécie de matrícula, de cadastro em uma instituição e a funcionária pedia informações sobre ele e digitava.

Nome? Identidade? CPF? Religião?

Não tenho?

Não tem? Mas como assim, não tem religião?

Não tenho religião.

Então boto aqui: cristão?

Não, não bota nada.

Mas foi batizado em qual religião?

Não fui.

Não foi batizado?

Não.

Imagine que esta conversa continuasse neste ritmo e viessem outras respostas negativas para as perguntas “lógicas” da funcionária.

Vacinas?

Não tenho.

Nunca foi vacinado?

Não.

Histórico escolar?

Não tenho, nunca estudei em escola, fui educado em casa e à distância.
Por mais inteligente que este jovem fosse, por mais educado, capacitado e gentil, ele não cumpriu os protocolos sociais, seria um estranho diante dos olhares tradicionais.

A ilusão de autonomia



Parece lógico que desde que nascemos haja um caminho a seguir.

Quando chegamos aqui já existia um esquema a ser seguido e obedecido, que foi traçado por aqueles que chagaram antes de nós.

E parece mesmo que tudo é cumprindo naturalmente.

Somos criado e educados por adultos, que depois nos enfiam em uma escola para sermos preparados para seguir o roteiro. 

E toda a organização social e a mentalidade da maioria das pessoas estão moldadas para cumprir o papel na peça da sociedade humana.

Quando alguém pensa que decidiu fazer faculdade, ter uma profissão, buscar um emprego, casar-se e constituir família, não decidiu, apenas cumpriu o programa.

Este tipo de tomada de decisão não é livre e independente, é modelada. E não há nenhum mal nisso, é claro.

Se a pessoa se sente sinceramente realizada assim, se vive satisfeita, pois que assim seja.

Mas aquele que decidir não cumprir o papel pré-determinado e se aventurar a escrever a própria história, fora dos padrões, será criticado. Não por todos, só pela maioria, principalmente pelos mais próximos.

Há pessoas que sentem que algo está errado, se sentem deslocadas, não pertencendo a este mundo, não aceitas, desencaixadas, um estranho ou uma estranha no ninho. Obviamente o modelo não satisfaz estas pessoas, não preenche os anseios da alma, como se não fossem feitas para encenar a mesma peça social.

Também não há nenhum mal nisso. A não ser que estas pessoas insistam em participar do teatro social comum, tradicional. Neste caso poderá haver problema. Algumas não suportam, têm dificuldade para definir sua identidade e adoecem.

Uma linda rosa na caixa de cristal

Conheço os dois tipos de pessoas. Os que adoram cumprir o protocolo e viver o papel que lhe foi colocado e os que não sabem lidar com isso, não é da sua natureza viver estes papeis e cumprir com os modelos.

Nenhum nem outro deve ser condenado ou deve se sentir culpado.

Você deve saber o que eu estou querendo dizer, deve conhecer ou até já se sentiu assim, como se não pertencesse a este mundo. Tentar de encaixar é doloroso, causa desajustes, machuca, fere quem você realmente é.

Algumas pessoas preferem se proteger do vento para manter o penteado intacto.

Outras preferem a bagunça que o vento faz nos cabelos.

Algumas preferem um jardim organizado, separado, classificado e limpo.

Outros preferem um jardim misturado, ao sabor da natureza, feito vento no cabelo.

Conheci pessoas que sofreram por tentarem se em-caixa-r (encaixar) onde não cabiam.  

Tente coloca uma linda rosa dentro de um dedal e verás o estrago que farás com ela.

Eu vi isso em alunos, em crianças com potencial enorme em algumas áreas, inteligentíssimas em alguns aspectos, mas sofrendo muito, porque os adultos, as instituições, pais, professores, psicólogos e psiquiatras trabalhavam juntos para que se encaixassem em moldes, modelos e protocolos.

Não há escrúpulos em se usar remédios (drogas), ameaças, corrupção e coerção para fazer uma inocente e rica criança, ou até um jovem, se 
em-caixa-r (encaixar),

Preferem matar sonhos, habilidades, sensibilidades e inteligências para chamá-la de “normal” e vê-la cumprindo os ritos e programas de uma sociedade doente.

Neste caso, é preferível o vendaval bagunçando todo o jardim do que as flores morrendo sufocadas nos cristais da sala.  

Felizmente, tenho visto muitas pessoas vivendo fora das caixas, negando papéis pré-determinados de tradições castradoras e sufocantes que cheiram a mofo.

Seja índigo, arco-íris, milenium, Y ou o tiozinho que aprendeu e mudou, não importa o rótulo, existe um grupo de pessoas vivendo sonhos fora da caixa, escrevendo a sua própria história, determinando seu modo de vida, fazendo as próprias escolhas livres das convenções.

E fazem tudo muito bem planejado e com muita responsabilidade, respeitando todo modo de vida.

Se você se sente assim, desajustado, não pertencendo a este mundo, não se culpe, não se machuque, alegre-se, não force a barra para seguir a manada.

Não tenha medo de desagradar, porque mesmo fazendo tudo o que te mandarem você ainda irá desagradar e será criticado.

Então deixa o vento bater. Liberte-se.



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