Conhece esta expressão? Ela te convence? Você já usou?
Duas pessoas estão discutindo
um assunto, a discussão fica um pouco acalorada, e uma diz para a outra:
“mas tu sempre foi um banana!”
Diante da reação da outra, do
clima que se instala, do que a frase provoca no ambiente, a pessoa então tenta
amenizar declarando que disse aquilo “só da boca pra fora”. Como quem diz que
não quis dizer aquilo, que não é sério, que ela não pensa assim, que o outro
não deve dar importância...
Mas é claro que foi da boca
pra fora, como alguém te diria algo falando da boca pra dentro?
E não, isto não significa que
a pessoa não pensou, que falou por falar, que foram só palavras da boca pra
fora, que não têm importância, que a pessoa não pensa assim.
Esto no existe!
Não existe palavra que sai
sozinha, sem nenhum correspondente interno, sem pensamento, sentimento,
vontade, emoções, intenções, algo sempre há.
Palavras não brotam do nada,
do vazio, quando alguém diz algo para outro alguém sempre há um fundamento.
Por exemplo, em psicologia, o
ato falho.
Pode ser que a pessoa nem se
deu conta de que disse algo, não lembra das palavras que pronunciou, mas em
psicologia aquelas palavras ditas estão dizendo algo da psique daquela pessoa.
Portanto, quando alguém diz “ah, foi só da boca pra fora”, ela está
escondendo o que tem por traz daquelas palavras, o que as motivou, porque disse
o que disse.
É provável que sempre tenha
achado o outro um banana, embora nunca tenha dito, mas naquele momento
acalorado as palavras saíram e para não magoar mais, para não piorar a situação,
para não ter que assumir que sempre achou o outro um banana, ou sabe-se lá por
qual motivo, recorre a este subterfúgio.
É evidente que este é um
direito da pessoa, não querer explicar porque disse algo, não querer demonstrar
o sentimento ou o pensamento que a levou dizer aquilo.
Embora melhor seria, talvez,
então, não dizer.
O fato é que quem diz e depois
tenta contornar com o argumento furado de que “foi só da boca pra fora” tem seus motivos.
E quem ouve pode fazer uma
escolha, que pode não ser muito fácil.
Pode deixar-se convencer,
crendo que realmente foi só da boca pra fora. Ou assumir que o que foi dito é
exatamente o que foi dito, lidando de forma madura com as consequências desta tomada
de consciência.
As decisões, neste caso,
permeiam a verdade, a autenticidade, a maturidade, a mentira e o engano, a falsidade
e o autoengano.
São escolhas, apenas escolhas.
Mas como profissional da linguagem
posso afirmar que esta expressão é um tanto sem pé nem cabeça.
Por um lado, ela é óbvia, pois
se diz algo para alguém da boca pra fora e não da boca pra dentro.
Por outro lado, ela é ridícula,
pois tenta fazer retornar ou anular as palavras que já foram ditas por um e
ouvidas por outro.
E dizem que são três as coisas
nesta vida que jamais voltam:
a flecha lançada, a palavra dita
e a oportunidade perdida.
E neste caso a pessoa perdeu a
oportunidade de ficar calada e assim não ter que fazer retornar a palavra dita.
Disse, falou, a palavra saiu,
não tem mais volta.
Ouviu, a palavra, ela entrou
no ouvido e na mente, não tem mais volta.
Esta é uma das belezas da linguagem.
É encantador lidar com algo tão volátil, tão poderoso, tão fugidio e concreto
ao mesmo tempo.
Algo que é nosso, que está sob
o nosso domínio e controle, mas também não está e é do outro ao mesmo tempo. E
marca e fere e também cura e suaviza.
Ao passo que a linguagem
revela também oculta e disfarça e diz e esconde numa espécie de jogo,
brincadeira, luta e dança, de sons e ideias e sentimentos e sensações.
Que outro material assim tão
genial temos nas mãos, ou melhor, na boca?
Então não seria inteligente
aprender a cuidar bem dela, da linguagem, a dizer bem dito, a pesar bem antes
de falar e de calar?
Refrear-se internamente antes
de dizer o indevido, refrear a língua e dizer quando precisa ser dito é bastante
difícil, requer sabedoria, leva uma vida para aprender e geralmente uma vida é
insuficiente, mas é lindo.
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