quinta-feira, 18 de julho de 2019

CUIDADO COM A IDEIA DE MERECIMENTO



Por que esta é uma ideia estapafúrdia? 




Você já ouviu falar na lei da física ou em uma lei da natureza chamada lei do merecimento?

Não, né? 

Eu não sei muita coisa de física e de leis, mas nunca ouvi falar e aposto que ela não existe.

Digo isto porque na natureza as coisas parecem não funcionar por meio de merecimento.

Se fosse assim o sol não brilharia para bons e maus.

A chuva não cairia sobre a terra de justos e injustos.

O ar não encheria os pulmões dos tiranos.

O dia não chegaria para os assassinos, que viveriam somente na escuridão.

Somente os merecedores receberiam as dádivas da mãe natureza e o dom da vida contemplaria apenas aqueles com créditos acumulados no banco dos merecimentos.

Se as coisas funcionassem com base em merecimento, não precisaríamos fazer nada, apenas ser bonzinhos, obedientes e merecer.

Mas não é assim que as coisas funcionam, não é uma questão de justiça nem de merecimento.

Merecimento não é uma lei, é apenas um instrumento de dominação próprio da família, da escola e da religião, mas que o mercado e o trabalho também utilizam para fazer obedecer e produzir mais.

Uma pessoa pode dificultar a sua vida por estar convencida de que não merecer coisas boas por ter cometido erros.

Outras se decepcionam e se frustram porque entendem que merecem, mas as coisas que desejam não vêm.

De nada adianta merecer viver se você não nadar quando cair no rio. 
Vai morrer como morreria qualquer outro.

E então não se poderá dizer que aconteceu porque não merecia. Não. Aconteceu porque não nadou.

Do contrário, alguém que pode estar na conta dos que não merecem viver, viverá se cair no rio e nadar.

Porque se salvar do afogamento é a consequência do ato de nadar.

A questão não é, portanto, de merecer ou não merecer algo, mas de conhecer as leis universais e agir de acordo para alcançar o que se deseja.

Alguém pode simplesmente viver de qualquer jeito, ir levando a vida, sem se questionar, sem saber direito o que está fazendo ou achando que sabe.

Poderá passar a vida inteira frustrada, infeliz, não conseguindo alcançar o que quer por não ter consciência de como são as regras do jogo e como funcionam as leis do Universo.

Por exemplo, nadar e não se afogar é ação e consequência. Jogar algo para cima e ele cair é ação e consequência em virtude de outra lei, a lei da gravidade.

Uma laranjeira não vai dar frutos ou deixar de dar em virtude do merecimento de quem a plantou, mas como consequência das condições em que ela vive.

Alguém não consegue emprego ou recebe uma promoção em virtude do merecimento, mas como consequência da sua competência, do trabalho que realiza, do quanto estudou, de como agiu, das suas atitudes.

Na família, na religião e na escola é importante fazer crer que as pessoas recebem coisas se merecerem e se não merecerem não receberão.

É assim com os presentes, com o carinho, com a atenção, com a simpatia, com a amizade, com as notas, com a salvação e o céu.

E funciona assim porque as pessoas têm necessidades, têm medos, são ambiciosas e querem as coisas, então realizam o que lhe é ordenado para receberem aquilo que desejam, ou para se livrarem da culpa e do medo.

É assim que a ideia de merecimento funciona como mecanismo de controle e dominação.

Por isso se deve ter muito cuidado com este conceito, com a ideia de merecimento.

Porque de tanto viver sob este jugo, a pessoa internaliza este valor e depois pauta a sua vida pelo que merece ou pelo que não merece, de acordo com os critérios que lhe foram passados na família, na escola e na religião.

Esta é uma das raízes da autossabotagem, no fundo a pessoa sabota aqueles projetos que ela, quase inconscientemente, acha que não merece.

Sabota o emprego, o relacionamento, a promoção, o empreendimento, as finanças e a própria vida, porque no fundo da sua psique está registrado que ela não merece ser feliz.

Talvez porque tenha abandonado alguém, feito um aborto, mentido, enganado, traído, matado, roubado, frustrado alguém?

O fato é, e você que resistiu até aqui e continua lendo sabe, que se alguém fizer o que tem que ser feito, do jeito que deve ser feito, o que deseja virá, mesmo tendo cometido erros, pois será consequência lógica das ações.

Porque é uma questão de lei, ação e consequência, ação e reação, lei do retorno, lei da entropia, nada de merecimento.

O conceito de merecimento vem acompanhado da ideia de que se alguém merece, então outro alguém lhe deve algo. O que é outra ideia estapafúrdia, que leva a enganos e desastres horríveis.

Uma pessoa que se julga merecedora entende que a vida lhe deve o melhor, mesmo que ela sequer saiba o que tem que fazer ou como tem que agir para alcançar aquele status que acha que merece.

Pensar em termos de merecimento é também considerar que em algum lugar alguém anota seus atos, seus pensamentos, suas intenções e faz um balanço do que você merece e do que não merece.

Tenho uma notícia para as pessoas que pensam assim: não existe ninguém anotando o que você faz para depois estabelecer o que você merece.

Lá na infância havia, sim, seus pais, eles prometiam que, se você merecesse, te dariam coisas, então tinham que computar seus pontos positivos e os negativos. Alguns colocavam a culpa no Papai Noel.

Mais tarde vieram os professores e os tutores espirituais, estes te disseram que em algum lugar celestial ou diabólico havia alguém que fazia este serviço.

Mas agora você cresceu, não há ninguém em lugar nenhum computando seus merecimentos.

O que há são leis, você faz algo e uma consequência ocorrerá de acordo com a ação inicial.

Quer dinheiro? 

Ora, trabalhe, ganhe, não gaste e como consequência lógica você terá estes cobiçados papeizinhos.

Quer liberdade? 

Então não faça nada que te prenda, que restrinja a sua liberdade.

E assim por diante.

O que não dá é alguém querer dinheiro, mas gastar mais do que ganha, querer liberdade e assumir compromissos aprisionadores, ou cometer um crime, ser condenado e ir para a prisão. E depois achar que não merecia ser feliz, ter dinheiro e liberdade.

Acho que é mais ou menos por aí que as coisas andam.

A gente acredita nos contos de fada da infância e às vezes os carrega por toda uma vida, arrastando seus dogmas como bolas de chumbo pendurados por correntes ao tornozelo do nosso entendimento.

Liberte-se.






Nenhum comentário:

Postar um comentário