sábado, 5 de janeiro de 2019

QUE EDUCAÇÃO É ESSA?


Você, professor, tem o conhecimento, mas está vendendo seu tempo, suas horas, seus dias, sua vida? 




Peço desculpas aos meus colegas professores, mas vou fazer um pouco o advogado do diabo neste artigo.

A intensão não é ofender nem desmerecer nosso trabalho, é só incomodar mesmo, porque o que é cômodo pode não ser muito produtivo nem transformador.


Espero provocar perguntas, questionamentos e indignação. 

Educação, ao meu ver, de educador, é uma ciência, uma disciplina acadêmica, uma área de pesquisa e uma prática, que deveria contribuir para a construção de um mundo melhor para as pessoas. 

Repito: para as pessoas.

Deveria contribuir para a construção de uma sociedade humana em que se pudesse viver dignamente, feliz e em comunhão, sentindo-se seguro e realizado.

É assim que é?

Ao que me parece, a escola e a família deveriam ser os lugares privilegiados da educação, aquela que constrói um mundo melhor para uma sociedade melhor.  Mas nem uma nem outra e nem mesmo a religião estão dando conta de construí-la, de desenvolvê-la e de praticá-la. Salvo raras exceções.

Chego a esta opinião ao olhar para o lado, ao meu redor, para o mundo em que vivo, para a vida das pessoas e para as relações sociais físicas e virtuais.

E você? 
Consegue ver?  
Consegue enxergar além das aparências e dos discursos? 
Consegue ver por baixo das máscaras?

Chego a me perguntar se a escola faz mais bem ou mais mal para as nossas crianças e jovens hoje em dia.

Eu sei que há um pudor enorme com relação à escola e falar contra ela ou questioná-la é quase um sacrilégio, mas aquilo que não se repensa, que não se critica e renova, tende a mofar e a escola está ficando com cheirinho de mofo.

É na escola que os diferentes começam a ser massacrados pelo bullying e é para lá que eles têm voltados armados de revolta, desalento e pistolas. 
Não tem sido assim?

A educação escolar não prepara para o século XXI, não ensina, como diz Augusto Cury, as pessoas a lidarem com suas emoções.

Não ensina, como diz Edgar Morin, as pessoas a lidarem com a complexidade e a terem uma visão sistêmica do mundo e da vida.

A escola não ensina as pessoas a viverem na atual configuração social.

E o resultado que temos é uma sociedade doente.

Aliás, a escola está conseguindo inclusive adoecer os professores, aí imaginem como fica tudo.


Reforma? 

Não. 

Não sei se este sistema pode ser reformado, algumas vezes o melhor é demolir e construir um novo.

Um novo ente de educação erigido no lugar deste que aí está.

Sem pudor. Com utopia, pode ser, mas sem pudor de desconstruir o que adoece, o que não funciona mais.

Ah, sim, serve para ensinar Matemática, Português, Geografia, História e algumas técnicas profissionais. 

Mas que matemática e que português se tem ensinado na escola, que ninguém aguenta mais?

Sou professor de Português e lecionei por muitos anos, e por isso posso afirmar sem medo de errar que o que se ensina nesta disciplina ainda hoje é ridículo.

Com raríssimas exceções, as escolas nem para ensinar a ler e escrever estão servindo mais.

Todas as pesquisas e dados e resultados e experiências comprovam isso.

Então, se não ensina a ler e escrever, não ensina ética, não ensina a lidar com as emoções e conflitos sociais, não ensina a conviver e compartilhar, se não ensina respeito, compaixão e solidariedade, se não ensina a pensar de forma sistêmica e crítica nem a estudar e aprender, serve para quê?

Se não serve ao propósito de construção de um mundo melhor e de uma sociedade mais justa, a qual propósito tem servido a “educação”, a escola?

Tem servido para a competitividade?
Para a exclusão?
Para a seleção?
Para a programação e encaixotamento das mentes?
Sim, pois a gênese da escola é esta, para isso foram criadas, com este propósito, e a ele ainda servem. Já disse Foucault. 

É na escola que a deseducação acontece. 
E até que alguém tenha coragem de encarar esta realidade, ela continuará deseducando.


Um movimento de pais, de professores e de estudantes em prol da desconstrução deste modelo de educação escolar, bichado, antiquado, inadequado e nocivo, e que ao mesmo tempo construa uma nova proposta de ente educador, para o século XXI, seria, talvez, uma alternativa.

Parafraseando Humberto Maturana, antes de decidir que educação queremos para o Brasil, precisamos decidir que Brasil queremos, que sociedade queremos, que cidadãos queremos. 

Em que momento fizemos isso no Brasil? 

Quando você como pai, como educador ou como estudante opinou sobre estas questões? 

Quando você participou, mesmo sendo educador, de discussões e construções deste tipo que realmente tenham resultado em práticas?

Quem é pai de criança ou jovem em idade escolar sabe que mesmo pagando uma escola particular cara, seus filhos ainda não sabem o que a escola passou anos tentando ensinar. 

E a culpa não é do aluno, é da escola. 

Porque por outros meios as crianças têm aprendido outras coisas de forma rápida e com facilidade.

Há professores dando 60 aulas por semana, para salas com 30 ou 40 alunos, ainda usando um livro didático e uma lousa, enquanto o jovem tem o mundo na palma da mão, ao alcance de alguns toques na tela, sem precisar sequer olhar. 

Se a escola fosse mesmo um lugar saudável não teríamos um número tão grande de professores em tratamento com medicação de uso psiquiátrico e de crianças tomando Ritalina e sabe-se lá mais o quê. 


Se a nossa loucura já está atingindo as crianças, isso deveria ser um alerta vermelho para repensarmos a educação, a escola e a nossa saúde mental e emocional.

Professor estuda anos, adquire um conhecimento especializado e aprende como passar este conhecimento.

Depois chega na escola e vende seu tempo.

Ou seja, o professor vende seu tempo para a escola, mas ela vende o conhecimento do professor para a sua clientela.

É isso que significa trabalhar por hora/aula, você, professor, está vendendo seu tempo e seu dia só tem 24 horas, por isso não consegue ganhar o suficiente mesmo trabalhando tanto. 

Enquanto isso é a escola que vende o seu conhecimento por um preço bem alto.

Se você vendesse seu conhecimento diretamente, sem atravessadores, tudo seria diferente, para você, para a sua família e para seus alunos.

Desconstruir a escola e este tipo de mercado de conhecimento ou informação, significa acabar com a exploração do professor, baratear a educação para os pais e melhorar a qualidade do ensino para os alunos.

Espero não ter proposto soluções nem ter dado respostas, mas ter provocado perguntas, dúvidas e questionamento.


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