segunda-feira, 21 de janeiro de 2019


O que é Matrix?

Quer saber se você vive em uma ilusão? 
Se você é realmente livre?


É muito provável que a palavra Matrix leve você a fazer relação com os filmes que têm este nome, com razão. Mas este artigo não trata exatamente da trilogia Matrix, embora se aproprie da ideia contida nestes filmes.
No primeiro filme Matrix, de 1999, um grupo de pessoas está ciente de que a vida da maioria das pessoas é uma ilusão e de que elas vivem uma escravidão, porém convencidas de que são livres. É esta realidade que o grupo apresenta ao protagonista, Neo, vivido pelo ator Keanu Reeves. Daí em diante se desenrola todo o enredo da trilogia.
Esta ideia de que o mundo que nós percebemos e vivemos não é tão real como nos parece e de que nossa vida é programada e não decidida conscientemente e livremente por nós não é nova, não foi inaugurada no cinema pelo filme Matrix.
Há milhares de anos esta ideia acompanha os seres humanos, desde a antiga Índia e a deusa Maya, que cria ilusões com movimentos de dança, passando pelo filósofo grego Platão, e a sua alegoria da caverna, por Rene Descartes (1596 a 1650), físico, filósofo e matemático francês, até os dias de hoje.
Grosso modo, a alegoria da caverna, de Platão, diz que um grupo de pessoas viviam olhando para as sombras projetadas na parede de uma caverna e para elas aquilo era a realidade, o mundo e a vida.
Quando um deles resolve questionar, sai de onde está e descobre um mundo imenso e mais real fora da caverna. Ele retorna à caverna para contar a novidade aos seus amigos, mas eles não acreditam, não aceitam a sua versão, o chamam de louco e o matam.

A matrix psíquica


Além da longa história de reflexão do homem sobre a veracidade da vida que vivemos, há um fundamento neurológico e psicológico para desconfiarmos da nossa capacidade de perceber e viver a realidade, se é que ela existe.
Basta você começar refletindo sobre a maneira como percebemos o mundo. Todas as informações entram em nós por 5 portas, os cinco sentidos de percepção externa: audição, olfato, visão, tato e paladar.
A visão, por exemplo, não acontece com a simplicidade que achamos que acontece. Não enxergamos com os olhos, enxergamos com a mente.
A luz bate nas coisas e reflete. O que o olho humano capta são apenas reflexos da luz. É a mente que organiza, interpreta e dá sentido ou não a estes estímulos que nos chegam através dos olhos.
Nosso cérebro faz quase que instantaneamente milhões de combinações e diferenciações para decidir se reconhece ou não aquele estímulo que chegou aos olhos, isto é, ele recorre a uma matriz.
A palavra Matrix pode ser traduzida para o português como matriz. Como aquela matriz matemática que aprendemos na escola. Uma matriz é um modelo, um protótipo básico a partir do qual se desenvolve tudo o que existe.
Na computação esta matriz básica é a linguagem binária, composta por dois elementos diferentes, 0 e 1, que permitem infinitas combinações e arranjos para sustentar toda a programação.
Semelhantemente uma matriz, uma matrix, vai sendo criada em nós a partir de todos os estímulos que recebemos desde o útero materno e mais intensamente depois que nascemos.
É a partir desta matriz que lemos e entendemos o mundo a nossa volta e até nós mesmos. Ou seja, nós basicamente só lemos e interpretamos, não temos contato direto com a realidade.
Podemos dizer que não vemos o mundo como ele é, recebemos reflexos de luz nos olhos e nossa mente reconhece ou não depois de fazer milhares de buscas na memória, milhares de comparações, combinações e diferenciações. Se a mente reconhecer aquele padrão, então nomeia pela linguagem, como sendo cadeira, mesa, árvore, pessoa, etc.
Foi baseando-se nisso que Rene Descartes criou aquela famosa frase “Penso, logo existo”, querendo dizer que a única coisa que ele considerava real são estas operações mentais, fora isso tudo é desconhecido para nós. Seria como dizer que dos nossos sentidos para fora não sabemos o que existe, pois tudo o que temos são interpretações dos estímulos que nos chegam, de acordo com a nossa matriz interna, a matrix.
Para comprovarmos isso basta eliminarmos o sentido da visão para entendermos que as operações continuarão as mesmas, só que a partir de outros tipos de estímulos, sons, cheiros, gostos e texturas.

A matrix social


Ampliando um pouco esta ideia podemos entender que, de certa forma, somos programados, temos um programa interno que interpreta o input, o estímulo externo, e a partir disso cria-se o output, que seria a nossa expressão, inclusive de comportamento, padronizado pela matriz ou, em inglês, matrix.
Onde está aí a liberdade? Onde está aí a verdade? Onde está a independência?
Você tem certeza que compra por decisão própria, livre e independente?
Você tem certeza que tem este ou aquele comportamento por decisão própria, livre e independente?
Você tem certeza que é livre?
Ou suas decisões são tomadas em obediência a uma matriz?
Ou seu comportamento obedece ao padrão de uma matriz?
Vou mostrar uma matriz bem interessante para você. Tudo o que é produzido pelo homem no mundo, em todas as indústrias e em todas as áreas, precisa ser consumido pelo próprio homem.
O homem é estimulado a produzir ganhando X e depois é estimulado a consumir o que produziu pagando Y. É um sistema circular, recorrente, você recebe algo para produzir e depois devolve o que recebeu ao trocar por algum “bem”.
Este “bem” é geralmente perecível, descartável, cada vez mais temporário, logo se torna obsoleto, para que precise ser substituído por outro mais moderno, avançado e melhor, por isso se torna uma necessidade.
Aí você poderia dizer que compra porque quer, que faz porque quer, que a decisão é sua. Será?
O que aconteceria se você decidisse se libertar desta matriz?
Ficaria fora dela, às margens, marginalizado, desconectado, seria rejeitado, recusado. Quem não produz não ganha, não tem como comprar, como consumir. A matrix não reconhece este padrão, por isso ele fica fora.
O que aconteceria se a maioria resolvesse se libertar desta matrix?
Se parar a produção, para a remuneração, para o consumo, que faz parar toda a produção e a engrenagem quebra.
Portanto você precisa ser estimulado a se manter dentro da roda, desde cedo precisa ser estimulado a ter uma profissão, produzir algo, para ganhar e consumir, como se isso fosse a própria vida. E é?
Há o marketing específico voltado para fazer a criança consumir. Cada vez mais cedo a criança é estimulada a competir, a se capacitar, a se preparar para uma carreira profissional, para ser mais uma peça na engrenagem, para ter um bom padrão de produção e consumo.
Mas a ilusão criada é que tudo é feito para ela “ser alguém na vida”, para ser “feliz”, para ter “liberdade”. Só que esta vida, felicidade e liberdade se resume em escolhas e decisões dentro da matrix, dentro da engrenagem, não pode ser fora dela.
Pode escolher a roupa, o carro, se vai comer no Bobs ou no Mcdonalds ou escolher como vai preparar seu filho para pertencer a mesma engrenagem da matrix. Fora disso é terreno proibido, é área restrita, é persona non grata.

A ilusão de que a ilusão é a única realidade possível


Mas aí vem o mais preocupante.
Como na alegoria da caverna, grande parte das pessoas não querem outra “realidade”, este é o único mundo possível para elas, defendem a ilusão e a escravidão com sangue e morte se for preciso.
Sequer aceitam a possibilidade de pensar que são escravas, que vivem como máquinas, operando de acordo com uma programação feita para elas. E defenderão a matrix, este modelo em que vivem, esta programação, com unhas e dentes, como se isso fosse a própria essência da vida. Mas será que é?
Não estamos dizendo com isso que a parir de agora você deveria abandonar tudo o que conhece da vida e deste mundo porque tudo é ilusão.
Não estamos dizendo que você não deve ter profissão nem comprar mais nada.
O que estamos mostrando é que faz uma grande diferença você estar nadando no meio do Oceano Pacífico sabendo onde está, qual a sua condição e os perigos que corre, do que nem sequer suspeitar da sua condição.
É melhor fazer escolhas e tomar decisões acordado ou dormindo? Se você quer ter condições para fazer melhor as suas escolhas, para você e para os que você ama, então é melhor fazer escolhas acordado, sabendo onde está, quais os riscos, o que está acontecendo, com mais lucidez.
Se esta vida já é assim, um modelo imposto, uma matrix que nos é imposta e onde vivemos presos, ainda há como piorar, que é viver achado que é livre e independente e que todas as escolhas são conscientes.
É disputar com os semelhantes uma posição de status dentro desta corrida de ratos, onde todos vivemos, achando que então, por isso, tornou-se um gato ou até um leão.
E para isso, alguns se atrapalham em mentiras, enganos, traições, financiamentos esmagadores, dívidas, juros, separações, desavenças, brigas, excesso de trabalho e de consumo e até crimes para manterem aparências ou para manterem a ilusão de que são especiais, melhores, diferenciados.
Mas ainda continua sendo ilusão, permanecemos todos dentro da mesma gaiola, obedecendo a mesma matriz, funcionando no mesmo padrão. O que muda é só o tipo de ilusão, uns acham que já chegaram a algum lugar e outros que ainda chegarão. Como os ratinhos girando na roda em busca de sucesso, ou de sobrevivência.
Sobre este assunto há muito mais a se conhecer e muito mais a se dizer. Esta é apenas uma pequena contribuição para início de conversa.
O filme Matrix é uma metáfora da nossa existência em sociedade e de nossa condição psíquica nesta existência, e sugere que a vida é outra coisa, bem diferente e além do meramente existir.
No filme Matrix, Neo, o protagonista, teve que escolher tomar uma pílula azul ou uma vermelha. A azul o levaria de volta ao sono, ao cotidiano, à ilusão da matrix. A pílula vermelha o levaria ao despertar, a enxergar a verdade e entender o que é matrix e a vida que levava.
Agora é a sua vez de escolher: pílula azul ou vermelha?
Liberte-se.
Espero ter contribuído em algo com este artigo.
Até o próximo.

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