domingo, 24 de fevereiro de 2019


A ESCRITA TERAPÊUTICA

Você já se sentiu abafado, precisado falar, desabafar com alguém?



E nem precisava que este alguém lhe dissesse algo, bastava que o ouvisse, com atenção, em silêncio mesmo, sem julgamentos. Se você já passou por isso, sabe da importância de colocar para fora a angústias, tudo aquilo que ficou represado na garganta, na emoção, nos pensamentos. Quase como a necessidade que o corpo sente de pôr para fora aquilo que entrou, comida ou bebida, e não foi bem digerido.
Mas você sabe que nem todos tem essa chance? Nem todo mundo tem alguém em quem possa confiar totalmente e se entregar, podendo falar sobre qualquer coisa, mesmo as mais íntimas, alguém que ouça em silêncio, calmamente, compreendendo o seu momento e a sua necessidade, sem fazer julgamentos nem emitir opiniões se não for solicitado.
E você sabe porque existe esta necessidade no ser humano, de compartilhar as suas emoções, as suas aflições e alegrias?

Por uma série de motivos, mas vamos começar com os 3 principais:

1º -  Porque somos seres sociais e não podemos viver sozinhos, isolados das outras pessoas (o pior castigo das prisões é a solitária). Compartilhar é uma necessidade, uma característica da vida humana.
2º - Simplesmente porque alivia a pressão interna. Você já se sentiu aliviado depois de desabafar com alguém.
3º - Porque ao expor, ao processarmos em linguagem nossas emoções e pensamentos, nossas aflições, medos, angústias, nossas incertezas e até nossa confusão interna, a nossa cognição se organiza, nossa compreensão se constrói e se modifica, nosso julgamento se adéqua e vamos sendo curados da dor e do sofrimento, vamos modificando nossa mentalidade e a forma como compreendemos o mundo, a vida e a nós mesmos.

Este terceiro aspecto é o mais importante. 
Mas você sabe por que isto ocorre?

Um dos atributos que nos diferencia dos outros animais é a linguagem verbal. O tipo de linguagem que desenvolvemos e usamos é um grande trunfo humano, uma das habilidades humanas mais maravilhosas. Talvez porque a usamos cotidianamente e de forma tão natural, não damos o devido valor que a linguagem tem. Afinal, quantas vezes no dia lembramos o quão maravilhoso é poder respirar e andar? Assim ocorre com a linguagem.
A linguagem humana tem íntima relação com a cognição, com os conceitos que temos, com os pré-conceitos, com nossa identidade, com a forma como nos entendemos como pessoa, com a forma como vemos e entendemos o mundo e os eventos da vida.
Você sabe que uma palavra pode estragar o dia de uma pessoa, talvez a semana inteira. Também sabe que uma palavra pode salvar o dia de uma pessoa, talvez a semana, talvez uma vida. Sabe também o grande valor que têm as palavras que nossos pais nos dizem, como elas marcam, como elas nos influenciam. Com uma única palavra podemos acabar com uma amizade de anos ou conquistar um grande amor.


É a linguagem humana que nos permite refletir sobre nós mesmo e termos a consciência de que existimos, podemos pensar sobre nós mesmos. Na linguagem humana há uma característica chamada metalinguagem, que faz com que ela possa se voltar para si mesma, podemos usar a linguagem para falar, refletir e entender a própria linguagem. E, portanto, podemos usar a linguagem para falar/escrever, refletir e entender a nós mesmos.
Mas isso não significa que uma pessoa que não fala e não ouve não tenha estas mesmas habilidades e condições, tem sim. Porque ela desenvolveu outro tipo de linguagem, com outro sistema de códigos, chamado de libras, mas que tem relação com a linguagem verbal, e porque a linguagem verbal não é a nossa única forma de comunicação e interação.
Voltemos ao fato, mencionado no início deste artigo, de que nem todas as pessoas têm sempre à sua disposição uma pessoa com quem desabafar.
Muitos especialistas, inclusive o Dr. Augusto Cury, têm afirmado que nunca na história da humanidade tivemos tanta facilidade de conexão e, paradoxalmente, nunca estivemos tão solitários. Nossas conexões cresceram em quantidade, mas nem sempre em qualidade.
As relações humanas, permeadas pela virtualidade, pelo ambiente virtual, podem estar se tornando superficiais e de baixa qualidade. Talvez por isso tantas pessoas tem convivido com a dificuldade de se relacionar, acometidas de solidão, depressão e ansiedade.
Neste caso entra a importância da escrita, até mesmo para quem tem com quem conversar.
Através da escrita o 2º e o 3º motivo pelo qual precisamos desabafar acontecem. Por isso a escrita é utilizada como uma forma de terapia e a folha branca uma companheira ideal, que nos escuta em silêncio, não retruca nem julga nem tem necessidade de falar, mas é poderosa para nos dar um retorno e nos ajudar na superação de alguns dilemas, na cura de algumas dores, no crescimento pessoal e no autoconhecimento.
Por um momento, em determinadas situações, ela pode ser a nossa salvação, sem que deixemos de lado as pessoas, pelo contrário, melhorando a qualidade dos relacionamentos, porque nada substituirá o valor de outro ser humano em nossas vidas.
Esta parte do tema é longa e profunda, por isso será desenvolvida no próximo artigo, não deixe de ler.
Liberte-se.
Espero ter contribuído de alguma forma com este artigo.
Até o próximo.



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