Inconvenientes geralmente são as verdades dos outros.
A nossa verdade geralmente é a
única que presta. E é quase natural ao homem pensar deste jeito. Mas viver em
sociedade se baseando sempre em convicções deste tipo pode ser perigoso.
Pode existir uma verdade
única?
Sim, pode.
“O homem respira”.
Esta
poderia ser uma verdade única.
Embora eu não duvide de que
alguém possa ter uma explicação diferente, pois não sou um cientista da
biologia e prefiro sempre deixar espaço para o novo, o surpreendente, aquilo
que eu não imaginei e não conheço.
Mas existem aquelas verdades
que são verdades vistas do meu lugar e não são verdades do ponto de vista do
outro.
Imagine que estamos eu e você
de frente um para o outro e eu escrevo no chão uma expressão, que olhando do
seu lado você a vê assim:
I + XI
= X
Se eu perguntar a você se esta
expressão é verdadeira, você vai responder que não, que 1 + 11 não é igual a
10.
Mas se você vier do meu lado e
olhar a mesma expressão a verá deste jeito:
X = IX
+ I
E agora, do meu ponto de
vista, a expressão é verdadeira.
Este é somente um exemplo que tomei
emprestado do livro Origem, do Dan Brown, para demonstrar que algumas vezes
existe a nossa verdade e a verdade do outro, as duas igualmente dignas de
respeito.
“Às
vezes só é necessário mudar a perspectiva para enxergar a verdade da outra
pessoa.” (Professor Robert Langdon, personagem de Dan
Brown)
Agora imagine um país
qualquer, dividido em dois grupos, o grupo A e o grupo B. Cada grupo é formado,
digamos, por 40 milhões de pessoas.
O grupo A olha para o grupo B
e afirma que está vendo um grupo de pessoas erradas. O grupo B olha para o
grupo A e diz que está vendo um grupo de pessoas erradas.
Cada um dos lados está
convicto da verdade e não tem nenhuma dúvida do que está vendo. Porém elas são
opostas e não tem como coexistirem. Se um lado estiver certo, o outro estará
errado.
Você acha mesmo possível que
apenas um destes grupos esteja totalmente certo e que o outro esteja totalmente
errado?
A situação pode ser vista de
outra maneira?
Por que 40 milhões de pessoas
pensariam da mesma forma e outros 40 milhões de pessoas também, sendo as opiniões
contrárias, opostas?
Alguém deve estar errado nesta
história e alguém deve estar certo nesta história.
O problema é que generalizamos
o erro e particularizamos as verdades. O erro está sempre nos outros e a
verdade sempre do nosso lado.
Um erro de um deles é o erro
de todos e um único acerto do nosso lado é o acerto de todos nós
invariavelmente, irrestritamente.
E baseamos a nossa verdade em
simples convicções.
O que não é uma atitude muito inteligente, não é mesmo?
As coisas não funcionam deste
jeito. Há erros e acertos, verdades e inverdades, em tudo e em todos, não
importa quão grandes sejam as nossas convicções.
Uma atitude que pode ser mais
adequada nestes casos é considerar sempre a possibilidade de que pode haver outras
verdades, desde outros pontos de vista, múltiplos.
Então muda-se a perspectiva
para conhecê-las e só depois optamos, se é que é necessário optar por uma só visão.
Ainda assim não parece ser necessário demonizar todas as outras perspectivas.
Poderia alguém afirmar então
que o homem não respira?
Sim, poderia.
E por este motivo ele deve ser
demonizado?
O outro é obrigado a concordar
com meu ponto de vista ou com o ponto de vista de um grupo?
Eu posso afirmar que o homem
não respira e ainda assim viver bem e deixar viver bem?
O que vale mais, a imposição
da minha verdade ou a liberdade e a vida?
No âmbito pessoal é mais
importante cada um encontrar o seu caminho, de forma a viver da maneira mais prazerosa
possível, do seu jeito, sem impor ao outro o seu caminho, sem se deixar afetar
pelo outro e ainda assim sabendo que precisa do outro, da convivência, da
harmonia e da cooperação.
Liberte-se da opinião do outro
e da necessidade de impor a sua. Proteja o seu direito ao respeito e o do outro
também. Só podemos exigir do outro o que também parte de nós.
O mundo se abre cada vez mais
e de forma mais rápida em múltiplos caminhos e maneira de viver, um processo
evolutivo e inevitável, se não aprendermos a respeitar e a nos respeitar
viveremos em conflitos, medos e prisões.
Talvez não tenhamos uma vida
pessoal, particular, mas tenhamos recebido a dádiva de passar pela grande vida
por um curto momento, sem nem mesmo compreendê-la totalmente e muito menos sem
o direito de defini-la ou impor verdades aos outros.
Primeiro a decisão pessoal pelo
respeito, depois os códigos que possibilitam uma convivência social pacífica.
E para terminar este artigo,
mais uma citação que peço emprestada a Dan Brown.
Oração
pelo futuro
Que
nossas filosofias sigam no mesmo passo das nossas tecnologias. Que nossa compaixão
siga no mesmo passo dos nossos poderes. E que o amor, e não o medo, seja o
motor da mudança. (Edmond Kirsch, personagem de Origem, de Dan
Brown).
Liberte-se.
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