domingo, 10 de março de 2019

Verdades inconvenientes


Inconvenientes geralmente são as verdades dos outros.


A nossa verdade geralmente é a única que presta. E é quase natural ao homem pensar deste jeito. Mas viver em sociedade se baseando sempre em convicções deste tipo pode ser perigoso.

Pode existir uma verdade única?

Sim, pode.

“O homem respira”.
Esta poderia ser uma verdade única.

Embora eu não duvide de que alguém possa ter uma explicação diferente, pois não sou um cientista da biologia e prefiro sempre deixar espaço para o novo, o surpreendente, aquilo que eu não imaginei e não conheço.

Mas existem aquelas verdades que são verdades vistas do meu lugar e não são verdades do ponto de vista do outro.

Imagine que estamos eu e você de frente um para o outro e eu escrevo no chão uma expressão, que olhando do seu lado você a vê assim:
I + XI = X
Se eu perguntar a você se esta expressão é verdadeira, você vai responder que não, que 1 + 11 não é igual a 10.

Mas se você vier do meu lado e olhar a mesma expressão a verá deste jeito:
X = IX + I
E agora, do meu ponto de vista, a expressão é verdadeira.

Este é somente um exemplo que tomei emprestado do livro Origem, do Dan Brown, para demonstrar que algumas vezes existe a nossa verdade e a verdade do outro, as duas igualmente dignas de respeito.

“Às vezes só é necessário mudar a perspectiva para enxergar a verdade da outra pessoa.” (Professor Robert Langdon, personagem de Dan Brown)

Agora imagine um país qualquer, dividido em dois grupos, o grupo A e o grupo B. Cada grupo é formado, digamos, por 40 milhões de pessoas.

O grupo A olha para o grupo B e afirma que está vendo um grupo de pessoas erradas. O grupo B olha para o grupo A e diz que está vendo um grupo de pessoas erradas.

Cada um dos lados está convicto da verdade e não tem nenhuma dúvida do que está vendo. Porém elas são opostas e não tem como coexistirem. Se um lado estiver certo, o outro estará errado.

Você acha mesmo possível que apenas um destes grupos esteja totalmente certo e que o outro esteja totalmente errado?

A situação pode ser vista de outra maneira?

Por que 40 milhões de pessoas pensariam da mesma forma e outros 40 milhões de pessoas também, sendo as opiniões contrárias, opostas?

Alguém deve estar errado nesta história e alguém deve estar certo nesta história.

O problema é que generalizamos o erro e particularizamos as verdades. O erro está sempre nos outros e a verdade sempre do nosso lado.

Um erro de um deles é o erro de todos e um único acerto do nosso lado é o acerto de todos nós invariavelmente, irrestritamente.
E baseamos a nossa verdade em simples convicções. 
O que não é uma atitude muito inteligente, não é mesmo?

As coisas não funcionam deste jeito. Há erros e acertos, verdades e inverdades, em tudo e em todos, não importa quão grandes sejam as nossas convicções.

Uma atitude que pode ser mais adequada nestes casos é considerar sempre a possibilidade de que pode haver outras verdades, desde outros pontos de vista, múltiplos.

Então muda-se a perspectiva para conhecê-las e só depois optamos, se é que é necessário optar por uma só visão. Ainda assim não parece ser necessário demonizar todas as outras perspectivas.

Poderia alguém afirmar então que o homem não respira?

Sim, poderia.

E por este motivo ele deve ser demonizado?

O outro é obrigado a concordar com meu ponto de vista ou com o ponto de vista de um grupo?

Eu posso afirmar que o homem não respira e ainda assim viver bem e deixar viver bem?

O que vale mais, a imposição da minha verdade ou a liberdade e a vida?

No âmbito pessoal é mais importante cada um encontrar o seu caminho, de forma a viver da maneira mais prazerosa possível, do seu jeito, sem impor ao outro o seu caminho, sem se deixar afetar pelo outro e ainda assim sabendo que precisa do outro, da convivência, da harmonia e da cooperação.

Liberte-se da opinião do outro e da necessidade de impor a sua. Proteja o seu direito ao respeito e o do outro também. Só podemos exigir do outro o que também parte de nós.

O mundo se abre cada vez mais e de forma mais rápida em múltiplos caminhos e maneira de viver, um processo evolutivo e inevitável, se não aprendermos a respeitar e a nos respeitar viveremos em conflitos, medos e prisões.

Talvez não tenhamos uma vida pessoal, particular, mas tenhamos recebido a dádiva de passar pela grande vida por um curto momento, sem nem mesmo compreendê-la totalmente e muito menos sem o direito de defini-la ou impor verdades aos outros.

Primeiro a decisão pessoal pelo respeito, depois os códigos que possibilitam uma convivência social pacífica.

E para terminar este artigo, mais uma citação que peço emprestada a Dan Brown.

Oração pelo futuro
Que nossas filosofias sigam no mesmo passo das nossas tecnologias. Que nossa compaixão siga no mesmo passo dos nossos poderes. E que o amor, e não o medo, seja o motor da mudança. (Edmond Kirsch, personagem de Origem, de Dan Brown).

Liberte-se.



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