domingo, 26 de maio de 2019

O PIOR É O MELHOR


O mundo sempre foi salvo pelos “piores” e destruído pelos “melhores”


Aqui nós propomos inversões e outras versões.

Se o mundo está de cabeça para baixo, como dizem, então talvez precise de uma inversão.

Não é que se vai inverter o mundo, mas o modo de olhar para ele, o modo de entender algumas coisas.

Também não significa uma opção, mas uma reflexão, cada um que decida por si mesmo, de acordo com sua própria vida.

Não se trata de conselhos, trata-se de provocar e incomodar a zona de conforto.

O comportamento de manada é o “normal”


É natural em nós, seres humanos, querermos pertencer a um grupo, fazer parte de algo maior do que nós, e alguns chamam esta tendência de comportamento de manada.

Temos a tendência de acompanhar a massa, de fazer o que grande número de pessoas faz, de obedecer a um fluxo, de repetir comportamentos.

Até recorremos a ideias como: “mas todo mundo faz!” ou “é assim porque todo mundo faz assim” ou “sempre foi assim” ou então simplesmente vamos seguindo, sem pensar direito no porquê, afinal todos estão indo e alguém já deve ter pensado no porquê.

Este comportamento é natural do ser humano e é natural em muitas outras espécies, como também é mecânico, nem sempre consciente.

O “normal” é a pior opção


Mas a nossa história mostra que nem sempre o consenso é a melhor opção, nem sempre a direção que um grande grupo toma é a mais adequada.

Geralmente o consenso de um grupo e o que se entende por “normal” é a pior opção.

O que era normal, lógico, consenso que todo um povo acompanhou quase destruiu a humanidade e causou a maior tragédia da nossa história: o nazismo, a ideia de uma raça pura, ariana.

O mundo sempre foi salvo pelos “piores” e destruído pelos “melhores”


Entenda-se por “piores” aqueles rejeitados, fora do normal, que a normalidade recusou e disse que não prestava.

E por “melhores” entenda-se os “normais”, aqueles obedientes que seguem a manada e fazem o que todo mundo faz.

A ovelha negra é a única capaz de se rebelar, enfrentar o lobo e salvar o rebanho, porque ela tem coragem, rebeldia, é questionadora, não obedece ao fluxo considerado “normal”.

As branquinhas morrerão gritando, comendo e defecando, seguindo o grupo, obedecendo a norma, porque acreditam que este é o destino delas, que é assim que elas têm que ser, sem questionar, afinal, todas as ovelhas sempre fizeram assim.

O menino expulso da escola por não ter condições de aprender nada, por não se enquadrar no modelo, por ser esquisito, estranho, fora da norma, é o maior gênio do século XX: Albert Einstein.

Não foi à toa que Bill Gates disse um dia que o nerd que você esculacha hoje na escola, um dia será seu patrão. Ele foi um menino nerd fora da norma.

Existem vários exemplos em que um homem sozinho, rejeitado, esquisito, ridicularizado, fazendo o que não era normal, o que parecia um desvario, algo ridículo, salvou povos inteiros e mudou a história.

Hoje eu e você chagamos em casa, à noite, e apertando um botão iluminamos a casa por causa de um destes loucos, que não era normal, que insistia em uma ideia absurda.

Ninguém normal poderia acreditar que um homem seria capaz de libertar o seu país do jugo do poderoso império britânico sem dar um único tiro, sem um único gesto de violência, apenas aquele homem fora do normal, esquisito, todo errado. E Gandhi conseguiu.

Ninguém normal aceitaria que um príncipe seria maior se deixasse seu império, seu castelo, suas riquezas, a proteção e o convívio da família. Isso não era uma atitude normal, era um disparate, uma insanidade, mas foi o que o esquisito e errado Buda fez, e tantos outros.

A benção de ser rejeitado


Ao escrever este texto lembrei do livro que li duas vezes na minha adolescência, um best-seller da época, quase todo adolescente daquela época o leu: Fernão Capelo Gaivota, de Richard Bach.

O livro conta a história de uma gaivota que cismou que conseguiria e queria porque queria alcançar a velocidade de um falcão, 200 km/h.

Devida a sua natureza, diferente da do falcão, a gaivota só poderia alcançar esta velocidade no mergulho, então ela subia o mais alto que podia e se lançava de cabeça em direção ao solo.

Fernão acidentou-se muitas vezes, foi ridicularizado pelo seu bando, foi banido e exilado do grupo, era a vergonha dos seus pais, porque não aceitava fazer o que toda gaivota deveria fazer sempre: pescar para comer.

Sozinho e isolado, o que facilitou bastante, ele continuou treinado até que conseguiu, foi a única gaivota a alcançar a velocidade de um falcão, 200 km/h. Experimentou o que nenhuma outra jamais conheceu, porque não fez o que todo mundo fez.

Acho que é por isso que tenho medo da normalidade, do consenso de grandes grupos, do consenso de massa, da estabilidade, do caminho da manada. Mais cedo ou mais tarde este caminho vai dar no frigorífico.

Por isso que, em alguns casos, quanto mais gente (de um certo tipo) me disser que estou errado, mais feliz eu fico, porque mais certeza tenho de que estou no caminho certo.

Em alguns casos, quanto mais crítica e contrariedade, maior é o indicativo de que o caminho é mesmo aquele que você escolheu.

Porque o que é elogiado é o “normal”, o que se enquadra, o que se em-caixa, o que se deixa moldar.

E, neste caso, tudo o que é diferente é condenado e afastado, ainda bem.
Porque ser condenado e afastado, discriminado, classificado como pior, errado, absurdo é a melhor coisa que pode acontecer, a única forma de não cair no moedor de carne e fazer parte da mesma pasta.

No final das contas, os “piores” sempre acabam sendo a salvação da lavoura, da pátria, da manada, do bando, do bem.









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