domingo, 16 de junho de 2019

O PODER DA LINGUAGEM


Não suporto influenciar pessoas e vou te contar porquê.



 "Luciano, posso fazer uma festinha de aniversários de 1 ano para o meu filho?"

Influenciar pessoas está na moda, parece que é o que todos procuram, seja para aumentar a clientela, seja para encher seus templos, seja para conquistarem seguidores, tráfego, clientes, votos, simpatia, aprovação ou consciência tranquila.

Por isso eu não gostaria de escrever para convencer, apenas para me expressar.

Se te servir, use. Mas por decisão sua.

Se não servir, descarte, jogue fora. 

Se não quiseres ler, tudo bem, o importante é que a escolha seja só sua e seja livre.

Não suporto influenciar pessoas e vou te contar porquê.


Vou te contar uma história bem singular, mas que é a pura verdade, aconteceu comigo.

E com esta história, a minha intenção é mostrar como a linguagem é poderosa e como acho importante utilizá-la com responsabilidade.

Entre meus 23 e 28 anos eu viajei pelo Brasil dando palestras sobre vários assuntos ligados ao esoterismo, à meditação, ao autoconhecimento, tantrismo, concentração, despertar da consciência, viagem astral e eliminação do ego.

Sim, eu sei, é doido, mas já vou te explicar.

Eu me fanatizei em uma determinada organização filosófica e mergulhei de cabeça, de forma intransigente, extremista e intolerante, como é todo tipo de fanatismo.

Sendo o fanatismo religioso o pior de todos e o mais perigosos.

Passei a trabalhar para esta organização.  Abria centros de estudos por onde eu ia, vivendo apenas para isto e deste trabalho.

Para se ter uma ideia, em uma destas cidades, de 200 mil habitantes, depois de 3 anos de trabalho saí de lá deixando uma escola funcionando na principal avenida, em um imóvel de 500m2, totalmente autossustentado e autofinanciado.

Então, o que houve de errado?


Fui bem treinado para fazer o que eu fazia, as palestras eram elaboradas cuidadosamente para convencer, e convenciam muitos e de tal forma que um dia isso me assustou.

Vinham nas nossas palestras, pessoas de todas as áreas profissionais, de todos os níveis sociais, de diferentes níveis de instrução, de poder econômico variado e de todas as idades.

Parece que as pessoas necessitam de alguém em quem se inspirar, alguém para endeusar, para idolatrar, alguém que as controle e direcione. Talvez por falta de amor próprio e autoconfiança.

Certo dia, em uma destas cidades em que fundei um centro de estudos da tal organização, um homem, pai de família, profissional, pai de uma menina e um menino, me procurou para me perguntar se ele podia fazer uma festinha para comemorar o aniversário de 1 ano do seu filho.

“Luciano, posso fazer uma festinha de aniversário de 1 ano para o meu filho?”

Naquele momento meu fanatismo abriu-se, fendeu-se, rachou, e um facho de luz entrou em minha consciência.

E eu me perguntei.

“O que é que eu estou fazendo com estas pessoas?”

“Quem eu penso que sou para determinar o que é verdade e o que não é, o que é bom e o que é mal para estas pessoas?”

Tirei o chão daquele pai de família que até me conhecer sabia tomar decisões.

Roubei a segurança daquele homem que antes de me ouvir, de aceitar o que eu tinha para lhe dizer, bem ou mal fazia suas escolhas.

Mas eram as suas escolhas, as suas decisões, tomadas livremente, sem a minha interferência, sem a interferência de alguém que mal se conhecia e queria ditar verdades para a vida dos outros.

E o pior é que ele não foi o único.

E quando os deixei, muitos ficaram sem saber o que fazer e se perderam de si mesmos.

E infelizmente eu também não era o único.

Então, quando os deixamos, alguns não souberam mais viver, alguns se tornaram andarilhos, deixando tudo para traz, até mesmo a própria identidade.

Isto faz muito tempo, hoje estou com 52 anos. Não esqueço de muitas daquelas pessoas, mas não posso me condenar para o resto da minha vida, senão quem não vai conseguir viver sou eu.

E eu sou o resultado do que vivi, dos lugares por onde andei, das pessoas com quem estive.

E depois de ter vivido esta experiência, entrei em uma Universidade para estudar a linguagem humana e fiz dela a minha profissão.

Sei muito bem o poder que as palavras podem ter, tanto para edificar como para destruir vidas.

Já provei desse poder tanto sobre a vida dos outros como sobre a minha própria vida.

Por muito tempo repeti para mim mesmo que eu me odiava e que eu era um lixo e assim eu me sentia, mesmo que ainda fizesse coisas boas e recebesse elogios.

Mas dentro de mim, era assim que eu me sentia, de acordo com o que eu dizia de mim mesmo, um miserável.

Até que o poder do que eu declarava sobre mim mesmo se concretizou e se exteriorizou.

Sair dali não foi nada fácil.

Então, mais uma vez a linguagem teve seu papel decisivo.

O poder do que se declara, o poder do verbo, é impressionante.

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