E de repente entrei em uma nuvem de borboletas amarelas e viajei dentro dela por vários quilômetros.
Quando vou fazer uma viagem de
moto faço um planejamento meticuloso, que inclui o percurso, os gastos, o
tempo, o que vou levar e até o preparo para alguma emergência.
Mesmo assim não é possível
prever o que acontecerá no quilômetro seguinte, muito menos por toda a viagem.
Cada metro é uma novidade, depois
de cada curva está o inesperado, atrás de cada montanha, uma surpresa.
Tem dias que se dorme em um
lugar, toma-se o café da manhã em outro, o almoço é em um lugar diferente e a
próxima noite em lugar incerto.
Na vida também é assim,
fazemos os planos, mas cada minuto à frente é inédito e de uma hora para outra tudo
pode mudar. Ainda bem.
Estar preparado para as
contingências, tanto na viagem como na vida, é imprescindível, pois ali na
frente, nos mínimos detalhes, pode estar uma oportunidade, uma alegria, um
perigo, uma guinada surpreendente.
Se não estivermos de mente aberta,
receptivos, atentos e preparados, podemos perder uma oportunidade, deixar de
viver uma alegria ou acabar caindo em uma cilada.
O medo do inesperado, do incerto,
do novo é incompatível com todo tipo de viagem, até com a viagem profissional e
com a viagem da vida também.
Na viagem de moto, aprende-se
a gostar mais das estradas com curvas, assim aprende-se a lidar e até a gostar das
curvas que a vida faz.
As retas são muito previsíveis,
pouco emocionantes, sem desafios, monótonas, se olhamos somente para a estrada.
É importante estar atento aos
detalhes em todos os ângulos.
Certa vez eu estava viajando
em uma estrada no norte da Argentina, na província de Chaco, com retas
intermináveis.
No entanto dos dois lados da
estrada haviam plantações de girassóis que pareciam sem fim, pois a região
produz óleo de girassol.
A estrada era uma serpente preta no meio de um mar de girassóis.
Foi aí que, em um determinado
trecho, entrei em uma nuvem de borboletas amarelas e viajei dentro dela por
alguns quilômetros.
Você pode imaginar uma coisa
assim?
Parecia um sonho que surgiu de
repente, foi um momento mágico e inesquecível, em uma estrada reta e monótona que
parecia não ter emoções a oferecer.
Planejar é importante, mas estar preparado para as contingências é mais.
Foi assim que aprendi a
importância de estar atento, porque a qualquer momento pode surgir uma surpresa.
Aprendi que devo estar
preparado em mim mesmo para ter a reação adequada, para dar a resposta que aquele
inesperado exige.
Se for algo bom, estar
preparado para desfrutar.
Se for um problema, estar preparado
para enfrentá-lo de forma adequada.
E a forma adequada é com calma,
com serenidade, com atenção, com flexibilidade e com força, se o momento exigir
força, mas sem perder a ternura.
Foram poucas as vezes que
decidi não encarar o caminho que tinha pela frente.
Uma vez resolvi não enfrentar
um trecho de muita lama e atoleiro, e sempre há um caminho alternativo.
Outra vez percorri 200
quilômetros pelo caminho errado, voltei e comecei tudo de novo, pegando o
caminho certo e seguindo viagem sem me culpar, feliz da vida.
Então às vezes é preciso desistir, tomar outro caminho ou voltar atrás.
Não há trecho difícil que não
passe, que não acabe, e geralmente depois dele fica a experiência e uma linda
vista.
Os 2 mil quilômetros de vento
da Patagônia passaram.
Os trechos de chuva torrencial
e frio passaram.
O trecho de neve passou, as
subidas íngremes passaram e as decidas perigosas também.
E não é assim que acontece na
vida, na gestão da empresa, na carreira profissional, na vida acadêmica, nos
relacionamentos?
Tudo sempre passa, só fica o
que você fez e como fez com aqueles momentos, as lições que aprendeu, a
experiência que ficou.
Até a nuvem de borboletas
amarelas passou, eu não filmei nem tirei fotos, mas eu vivi.
E depois que passou, tive que
lavar minha jaqueta e meu capacete, porque estavam cobertos de borboletas
mortas.
Houve muita beleza, mas houve mortes,
houve perdas também, muitas borboletas morreram para me proporcionarem aquela
experiência.
Não lavei a sujeira que ficou contrariado,
mas grato e emocionado.
E assim é a vida. E assim vou
aprendendo a viver, de viagem em viagem.
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