sábado, 20 de abril de 2019

LIÇÕES QUE APRENDI VIAJANDO DE MOTO E QUE SERVEM PARA A VIDA


E de repente entrei em uma nuvem de borboletas amarelas e viajei dentro dela por vários quilômetros.




Quando vou fazer uma viagem de moto faço um planejamento meticuloso, que inclui o percurso, os gastos, o tempo, o que vou levar e até o preparo para alguma emergência.

Mesmo assim não é possível prever o que acontecerá no quilômetro seguinte, muito menos por toda a viagem.

Cada metro é uma novidade, depois de cada curva está o inesperado, atrás de cada montanha, uma surpresa.

Tem dias que se dorme em um lugar, toma-se o café da manhã em outro, o almoço é em um lugar diferente e a próxima noite em lugar incerto.

Na vida também é assim, fazemos os planos, mas cada minuto à frente é inédito e de uma hora para outra tudo pode mudar. Ainda bem.

Estar preparado para as contingências, tanto na viagem como na vida, é imprescindível, pois ali na frente, nos mínimos detalhes, pode estar uma oportunidade, uma alegria, um perigo, uma guinada surpreendente.

Se não estivermos de mente aberta, receptivos, atentos e preparados, podemos perder uma oportunidade, deixar de viver uma alegria ou acabar caindo em uma cilada.

O medo do inesperado, do incerto, do novo é incompatível com todo tipo de viagem, até com a viagem profissional e com a viagem da vida também.

Na viagem de moto, aprende-se a gostar mais das estradas com curvas, assim aprende-se a lidar e até a gostar das curvas que a vida faz.

As retas são muito previsíveis, pouco emocionantes, sem desafios, monótonas, se olhamos somente para a estrada.

É importante estar atento aos detalhes em todos os ângulos.

Certa vez eu estava viajando em uma estrada no norte da Argentina, na província de Chaco, com retas intermináveis.

No entanto dos dois lados da estrada haviam plantações de girassóis que pareciam sem fim, pois a região produz óleo de girassol.

A estrada era uma serpente preta no meio de um mar de girassóis.

Foi aí que, em um determinado trecho, entrei em uma nuvem de borboletas amarelas e viajei dentro dela por alguns quilômetros.

Você pode imaginar uma coisa assim?

Parecia um sonho que surgiu de repente, foi um momento mágico e inesquecível, em uma estrada reta e monótona que parecia não ter emoções a oferecer.

Planejar é importante, mas estar preparado para as contingências é mais.

Foi assim que aprendi a importância de estar atento, porque a qualquer momento pode surgir uma surpresa.

Aprendi que devo estar preparado em mim mesmo para ter a reação adequada, para dar a resposta que aquele inesperado exige.

Se for algo bom, estar preparado para desfrutar.

Se for um problema, estar preparado para enfrentá-lo de forma adequada.

E a forma adequada é com calma, com serenidade, com atenção, com flexibilidade e com força, se o momento exigir força, mas sem perder a ternura.

Foram poucas as vezes que decidi não encarar o caminho que tinha pela frente. 

Uma vez resolvi não enfrentar um trecho de muita lama e atoleiro, e sempre há um caminho alternativo.

Outra vez percorri 200 quilômetros pelo caminho errado, voltei e comecei tudo de novo, pegando o caminho certo e seguindo viagem sem me culpar, feliz da vida.

Então às vezes é preciso desistir, tomar outro caminho ou voltar atrás.  


Não há trecho difícil que não passe, que não acabe, e geralmente depois dele fica a experiência e uma linda vista.

Os 2 mil quilômetros de vento da Patagônia passaram.

Os trechos de chuva torrencial e frio passaram.

O trecho de neve passou, as subidas íngremes passaram e as decidas perigosas também.

E não é assim que acontece na vida, na gestão da empresa, na carreira profissional, na vida acadêmica, nos relacionamentos?

Tudo sempre passa, só fica o que você fez e como fez com aqueles momentos, as lições que aprendeu, a experiência que ficou.

Até a nuvem de borboletas amarelas passou, eu não filmei nem tirei fotos, mas eu vivi.

E depois que passou, tive que lavar minha jaqueta e meu capacete, porque estavam cobertos de borboletas mortas.

Houve muita beleza, mas houve mortes, houve perdas também, muitas borboletas morreram para me proporcionarem aquela experiência.

Não lavei a sujeira que ficou contrariado, mas grato e emocionado.

E assim é a vida. E assim vou aprendendo a viver, de viagem em viagem.



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