sexta-feira, 5 de abril de 2019

O TRABALHO NÃO DIGNIFICA O HOMEM



Existem muitas coisas que dignificam o homem, o trabalho não é uma delas.




A proposta é experimentar outras versões e inversões, então vamos pensar um pouco sobre esta frase.

Você sabia que houve uma época na nossa história em que o trabalho era sinônimo de indignidade?

O homem que não pensava, que não tinha capacidade criativa, intelectual, que não tinha conhecimento nem nobreza então trabalhava.

A única forma de garantir seu sustento era vendendo a força física e o seu tempo, então ele trabalhava.

Não servia para a ciência, para a literatura, para a arte, para o esporte, para o pensamento, então trabalhava.

Não trabalhar era sinônimo de nobreza e dignidade.

Era assim que era visto, essa era a leitura.

Claro que estamos falando deste tipo de trabalho: de quem vende seu tempo, sua força, seus dias, sua vida para que possa adquirir coisas. Na maioria das vezes, as mais básicas à sobrevivência.

Pensando por este aspecto, que dignidade há em acordar com um despertador berrando no ouvido, coração disparado, sem condições nem tempo para fazer sequer um bom desjejum com calma?

Que dignidade há em sair de casa correndo para pegar duas conduções só para chegar no trabalho, torcendo para não se atrasar e ter que ouvir reprimenda do patrão?

 Que dignidade há em ficar preso dentro de um carro no meio de um trânsito caótico depois de trabalhar pelo menos 8 horas e ainda chegar em casa tarde e exausto, quando os filhos já estão dormindo, dia após dia, semana após semana, ano após ano?

Que dignidade há em viver com medo de perder o emprego, se submetendo a vender a liberdade e a vida para se sustentar e sustentar precariamente a família?

Que dignidade há em mendigar um mísero aumento ou ter que vender as férias para ter um pouquinho a mais do que o alimento?

Que dignidade há em ser demitido sem dó nem piedade depois de se dedicar 15, 25 anos para realizar o sonho dos outros?

Aliás, que dignidade há em trabalhar 15 ou 25 anos na mesma empresa?

Que dignidade havia na escravidão, onde só o que se fazia era trabalhar?

E que grande diferença há entre aquele e este escravo?

A frase “o trabalho dignifica o homem” foi provavelmente criada na revolução industrial, pelo dono da fábrica que necessitava de operários obedientes, produtivos, convencidos de que eram dignos. Dignos de trabalharem 12, 14 horas por dia, ganhando um mísero salário e morando em cortiços.

Se o trabalho dignificasse o homem não existiriam tantos trabalhadores indignos.

Portanto, não é  o trabalho o fator decisivo para a dignidade do homem.

Existem muitas coisas que dignificam o homem e o trabalho não é uma delas.


A leitura, o estudo, a espiritualidade, as viagens, a justiça e até o ócio podem dignificar o homem, o trabalho não.

O trabalho que vende o tempo, a saúde, a força, a convivência com os filhos e a vida não dignifica, mas massacra, esmaga, indigna, revolta, mata sonhos, mata esperanças, embrutece, robotiza, coisifica, degrada.

Sim. Dá o pão. Dá não, vende e vende bem caro, muito caro.

E só o pão, mas nem só de pão vive o homem, também de cultura, de arte, de liberdade, do sorriso no rosto da esposa e dos filhos e da sensação de realização, de prazer e satisfação.


Um engano repetido muitas vezes, por décadas, por séculos, acaba sendo assimilado como uma verdade irrefutável. Mas isso não precisa nos impede de pensar.

Não escrevo para te convencer de nada.

Não escrevo esperando que você concorde.

Não escrevo pensando estar certo em tudo o que digo.

Escrevo na esperança de te fazer pensar em pelo menos um ponto que te diga respeito, que te angustia, que te incomoda, para que, quem sabe, possa te ajudar a tornar a vida melhor, mais prazerosa e digna.

Pense nisso.

Liberte-se.

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