Existem
muitas coisas que dignificam o homem, o trabalho não é uma delas.
A proposta
é experimentar outras versões e inversões, então vamos pensar um pouco sobre
esta frase.
Você
sabia que houve uma época na nossa história em que o trabalho era sinônimo de
indignidade?
O homem
que não pensava, que não tinha capacidade criativa, intelectual, que não tinha
conhecimento nem nobreza então trabalhava.
A
única forma de garantir seu sustento era vendendo a força física e o seu tempo,
então ele trabalhava.
Não
servia para a ciência, para a literatura, para a arte, para o esporte, para o
pensamento, então trabalhava.
Não trabalhar era sinônimo de nobreza e dignidade.
Era
assim que era visto, essa era a leitura.
Claro
que estamos falando deste
tipo de trabalho: de quem vende seu tempo, sua força, seus dias, sua vida
para que possa adquirir coisas. Na maioria das vezes, as mais básicas à
sobrevivência.
Pensando
por este aspecto, que dignidade há em acordar com um despertador berrando no
ouvido, coração disparado, sem condições nem tempo para fazer sequer um bom
desjejum com calma?
Que
dignidade há em sair de casa correndo para pegar duas conduções só para chegar
no trabalho, torcendo para não se atrasar e ter que ouvir reprimenda do patrão?
Que dignidade há em ficar preso dentro de um
carro no meio de um trânsito caótico depois de trabalhar pelo menos 8 horas e ainda
chegar em casa tarde e exausto, quando os filhos já estão dormindo, dia após
dia, semana após semana, ano após ano?
Que
dignidade há em viver com medo de perder o emprego, se submetendo a vender a
liberdade e a vida para se sustentar e sustentar precariamente a família?
Que
dignidade há em mendigar um mísero aumento ou ter que vender as férias para ter
um pouquinho a mais do que o alimento?
Que
dignidade há em ser demitido sem dó nem piedade depois de se dedicar 15, 25 anos
para realizar o sonho dos outros?
Aliás,
que dignidade há em trabalhar 15 ou 25 anos na mesma empresa?
Que dignidade
havia na escravidão, onde só o que se fazia era trabalhar?
E que
grande diferença há entre aquele e este escravo?
A
frase “o trabalho dignifica o homem” foi provavelmente criada na revolução industrial,
pelo dono da fábrica que necessitava de operários obedientes, produtivos, convencidos
de que eram dignos. Dignos de trabalharem 12, 14 horas por dia, ganhando um
mísero salário e morando em cortiços.
Se o
trabalho dignificasse o homem não existiriam tantos trabalhadores indignos.
Portanto,
não é o trabalho o fator decisivo para a
dignidade do homem.
Existem muitas coisas que dignificam o
homem e o trabalho não é uma delas.
A
leitura, o estudo, a espiritualidade, as viagens, a justiça e até o ócio podem
dignificar o homem, o trabalho não.
O
trabalho que vende o tempo, a saúde, a força, a convivência com os filhos e a
vida não dignifica, mas massacra, esmaga, indigna, revolta, mata sonhos,
mata esperanças, embrutece, robotiza, coisifica, degrada.
Sim.
Dá o pão. Dá não, vende e vende bem caro, muito caro.
E só o
pão, mas nem só de pão vive o homem, também de cultura, de arte, de liberdade,
do sorriso no rosto da esposa e dos filhos e da sensação de realização, de
prazer e satisfação.
Um engano
repetido muitas vezes, por décadas, por séculos, acaba sendo assimilado como uma
verdade irrefutável. Mas isso não precisa nos impede de pensar.
Não
escrevo para te convencer de nada.
Não
escrevo esperando que você concorde.
Não
escrevo pensando estar certo em tudo o que digo.
Escrevo
na esperança de te fazer
pensar em pelo menos um ponto que te diga respeito, que te angustia, que te
incomoda, para que, quem sabe, possa te ajudar a tornar a vida melhor, mais prazerosa
e digna.
Pense
nisso.
Liberte-se.
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